Relato de Parto

Por Malena


Dar a luz foi algo sublime para mim! Além de dois filhotes lindos a maternidade me trouxe e continua a trazer uma transformação profunda de todo meu ser. Tornar-me Mãe foi essencial para eu crescer, me curar, me preencher. Deus me deu um presente maravilhoso, uma família linda que me proporcionou uma das melhores experiências da minha vida: O Parto!

É interessante como pressentimos as coisas! Quando mudei de Brasília para Campinas iniciei uma catarse muito forte, cheguei aqui e me deparei com todo meu passado, parecia estar revivendo de forma intensa coisas que passaram comigo desde a infância, principalmente a minha relação com os meus pais. Nessa mudança eu me sentia parindo a mim mesma, me criando e sendo a minha própria mãe! Minha alma já estava sentindo a maternidade chegando e para ser Mãe eu realmente precisava nascer denovo.


Pouco tempo depois conheci o Daniel e me vi completamente apaixonada por ele! O lindo me deixou bem claro a intenção de casar e ter filho, enquanto eu queria estudar dança, seguir carreira, sair viajando pelo mundo, risos... Eis que me começa uma metamorfose diferente, eu que era amante do vento, adorava sair voando de flor em flor, adormeci num dia e no outro acordei enraizando, me tornando uma mulher meio árvore, foi assim que me senti ao estar grávida, uma árvore dando frutos.

A gravidez foi uma ótima oportunidade para mergulhar dentro de mim, com os sentidos mais aguçados e o interior iluminado pude acessar mais facilmente partes da minha vida que precisavam ser resolvidas. Meu primeiro fruto foi um menino que trouxe a tona a minha figura primária de homem, esta causou-me uma ferida durante a minha infância que doía e se refletia em vários aspectos da minha vida, que foi a raiz de uma confusão que me acompanhou até os primeiros meses da gestação do Luan quando precisei resignificá-la para poder Dar a luz a um Homem.

No inicio da gravidez do Luan descobrimos o parto de cócoras no Caism-Unicamp, frequentamos o grupo de parto alternativo do Dr. Hugo e aprendemos muito com eles, meu marido teve uma transformação absurda, a princípio ele não conseguia ver as cenas de parto, no fim ele queria pegar o bebê, risos... Tinhamos certeza de que nosso filho nasceria de parto natural, desejavamos isso claramente, não conseguia imaginar de outra forma. Curtimos a gravidez, foi fantástico sentir nosso bebê crescendo dentro de mim, uma delícia preparar o ninho para recebê-lo! Passamos quase todo trabalho de parto em nossa casa, chegamos ao Caism com 8cm de dilatação e em menos de duas horas nosso pequeno estava em meus braços. Achei que eu fosse rachar ao meio com aquela dor insuportável, cheguei a gritar por uma anestesia, quando meu filhote coroou e me ajudou a parí-lo naturalmente, com o apoio da nossa amiga Rosana e do meu amado Daniel. Foi um parto muito forte e especial, que nos deu uma imensa felicidade e a base para o parto da Luiza dois anos depois.


Na gravidez da Luiza eu fui mais a fundo de mim, da humanização do parto, tive o auxílio de uma amiga doula que me deu a luz em vários momentos e me ajudou bastante na pesquisa e entendimento deste assunto. Foi uma gravidez muito intensa! Quando desejamos a nossa filha estávamos numa situação favorável, aconteceu que dois meses depois tudo mudou e começamos uma fase muito dura e transformadora para nós. Esse comecinho foi terrível, me senti insegura, solitária, o Dani estava tão preocupado com trabalho, que não tinha cabeça pra mais nada... Senti tanta falta das mulheres da minha vida! Tive medo de parir, lembrava do quanto foi doloroso parir o Luan e isso me assustava, falei sobre isso com a minha doula e ela me disse com a maior tranqüilidade que lógo eu entenderia por que o parto do Luan doeu tanto e que eu iria desejar por esse momento, naquele instante pensei que ela era louca... Mas com o passar da gravidez fui desmistificando esse medo e compreendendo outras questões que estavam envolvidas nele.


Meu segundo fruto mexeu ainda mais comigo, trazer uma menina ao mundo tocou a fundo numa fragilidade que eu precisava transformar, eu precisava tomar uma nova posição perante Deus, perante a vida, perante a mim mesma, deixar de ser uma menininha vitimizada e assumir a realeza de ser Mãe com toda força e segurança de mulher íntegra.
Comecei a observar o que eu sentia, tirei o foco da dor, dei mais atenção ao meu ideal de parto e passei a acreditar que ele poderia ser uma vivência prazeroza. De um momento pro outro me transformei por completo, minha barriga cresceu juntamente com minha fé em Deus, na vida, em algo que é superior a toda situação que passamos! Tive momentos de muita dor, seguidos de muita clareza e compreensão do que esta dor queria me mostrar e isto foi fundamental para eu enxergar o que é realmente importante para nós! Passamos por circunstâncias difíceis, nos sentimos apertados de todos os lados, como se tivéssemos atravessando um canal estreito, onde o mais interessante foi aprender a relaxar em meio a toda tensão que estávamos vivendo, e num dado momento por mais que o parto fosse doloroso seria um descanso em meio a essa transição!


Um sentimento de amparo divino, de união familiar, de entrega e aceitação foi se fortalecendo em nós, Dani mudou quando a minha barriga cresceu, risos... se tornou mais atencioso e amoroso conosco e isso foi muito importante! Estar grávida de uma menina me deixou mais feminina, adorei me sentir Lua cheia, despertei a dançarina adormecida em mim e me diverti muito dançando com a minha neném e com Luanzinho!
Nossa filha é uma benção de Deus, a prova viva de que ele existe e atua em nossas vidas. Nós pedimos por ela e Deus nos deu! Lembro-me de estar num culto junto a nossa igreja, com muito medo de parir, pedindo a Deus que me desse força, quando nosso pastor profetizou que eu teria um Parto Abençoado, como foi bom ouvir aquelas palavras, tive a certeza de que se o parto fosse em casa, no hospital ou na China, tudo ocorreria bem, pois estamos com Deus e quando tomamos consciência disso tudo ocorre de forma Divina!


É também de grande valor o círculo feminino na jornada de uma mulher, principalmente quando se está prestes a parir! Percebi que essa corrente feminina é algo que ultrapassa as barreiras da distância, dentre tantas outras, não tenho palavras para agradecer as queridas mulheres que estiveram comigo me dando apoio durante a gravidez, nos meus partos e pós-partos! Sem deixar de citar a importância dos livros, palestras e relatos de parto que li e assisti durante as gestações, que foram muito enriquecedores para minha vida, agradeço a todos que fazem parte da humanização do parto e nos ajudam, direta ou indiretamente, a vivenciar este momento de forma mais ativa e consciente.

O meu primeiro desejo ao saber que estava grávida foi de parir na água! Durante a gravidez por vezes pareceu-me quase impossível parir como eu desejava e no fim percebi que era mais simples do que eu pensava, também descobri que não é por falta de dinheiro que se tem um parto sem parteira, pois as profissionais dessa área são pessoas sensíveis e abertas a negociação.

Decidi ter um parto em familia no último mês da gravidez, sendo que o Dani cogitava essa idéia desde o começo, na verdade desde a gravidez do Luan. Para nós essa foi a opção mais natural, assumir essa responsabilidade foi confortável, tirou um peso das minhas costas, pois eu estava incerta com relação a quem chamar para nos ajudar. Eu precisava dessa vivência para encerrar esse ciclo e me preparar para a maratona que eu iria enfrentar após o parto. Luiza e eu estávamos ótimas, fizemos pré-natal com uma médica que eu confiava, tivemos uma gravidez saudável, Dani e eu estávamos preparados para este momento, seguros e convictos dessa decisão. Estudamos, pesquisamos, tiramos todas as dúvidas que tínhamos a respeito do parto, dos cuidados com a neném e comigo e tínhamos um plano B, caso precisássemos de ajuda.


O Dani é maravilhoso!Ele pariu comigo em nossos dois partos, ele foi super carinhoso, atencioso, ativo, presente... E esse ato de amor fortaleceu ainda mais a nossa união!
O parto da nossa Luiza foi perfeito! Do jeito que pedi a Deus, na água, sem medo, com muito amor, respeito e zelo! Conduzí-lo foi muito importante para mim, descobri uma força incrível que eu precisava acessar para dar conta de tudo que estava por vir. Receber com as próprias mãos a minha filha que acabava de nascer de mim, cheia de vida, tão bela, frágil e tão forte, foi algo tão especial que só de lembrar me faz entrar num sentimento de gratidão e pura contemplação! É com esse sentimento que relato o nascimento da nossa flor Luiza.


Uma semana antes do parto tive um vislumbre de sensações e imagens de mulheres que pariram antes de mim, foi algo muito forte e estranho, sabia que ainda não era minha hora pois estava com 36 semanas de gravidez, mas senti como se já estivesse parindo, tive um pouco de medo e chorei muito, fui para o banheiro e fiquei um tempão debaixo d´água, vinha-me uma lembrança primitiva das muitas mulheres que passaram por este rito da feminilidade, me senti nascendo e ao mesmo tempo parindo, depois desse dia fiquei completamente disposta e preparada para Dar a Luz a Luiza!



No dia 10 de setembro de 2009 acordei às 2hs da madrugada com cólica e fui avisar pro Dani, que ainda estava trabalhando, será que vai nascer? Volto pra cama, sonho que alguém vinha verificar minha dilatação e já tirava minha filha de dentro de mim e a colocava no meu colo! Foi uma delícia ver os olhinhos castanhos dela brilhando ao se encontrarem com os meus, como ela era linda! Foi estranho parir sem trabalho de parto e sem dor! Acordei preferindo um parto com trabalho e dor, risos... Dani foi dormir ás 5hs, como no parto do Luan, eu estava com contração mesmo e depois desse sonho sabia que ia parir.
Levantei bem cedinho, estava feliz por ter chegado a hora! Preparei o quarto da Luiza onde ela iria nascer, Luan acordou dei um abraço gostoso nele e perguntei meio faceira se a Luiza ia sair da minha barriga e ele respondeu sorrindo: Vai mamãe!


Conversamos com ele desde o começo da gravidez, fiz questão de que ele estivesse inserido em todo o processo e ele se preparou conosco para este momento, nos alongamos, dançamos, cantamos, gritamos no banheiro e assistimos muitas vezes ao meu vídeo inspirador, Birth as we know it, que foi a melhor forma dele saber como nascem os bebês, ele dizia que a Luiza ia sair pelo meu xixi, risos...
Dani levantou, limpamos a casa, ele foi comprar umas comidinhas que faltavam (desta vez eu não queria passar fome), fizemos o almoço e eu comi super bem! Luan dormiu e ficamos namorando, curtindo o finalzinho da gravidez, às 15h30min o tampão saiu e as contrações ritmaram, lá pelas 17hs ficaram mais fortes, então liguei para Lívia que me veio doular e pra Rosana que veio ajudar a cuidar do Luan e acabou cuidando de mim também!
Oramos a Deus, enchemos a piscina e eu entrei com o Luanzinho. Uau! Aquilo foi bom demais! A água quentinha, as massagens, o conforto e proteção do nosso ninho, do meu amado, do meu filhote, das minhas doulas maravilhosas! Com as músicas que eu gosto e uma grande serenidade no ar, foi o meu momento de Rainha!



Fiquei um tempão curtindo as contrações com o meu filho na piscina, daí ele saiu e lógo eu quis sair também, pois parecia ter estacionado o trabalho de parto, estava muito relaxada, mas antes de sair fiz um toque em mim, o que foi fantástico! Consegui sentir a bolsa, estava com uns quatro cm de dilatação. Depois a Lívia teve a idéia de ouvirmos o coraçãozinho, ela fez isso para me mostrar como a Luiza tinha descido, ela estava lá embaixo mesmo! Que emoção!!!
Fui andar pela casa, a Ro estava cozinhando uma canja, enquanto o Luan brincava debaixo da mesa... Fui pra sala, apaguei a luz, me pendurei na rede, dancei um pouco e depois fiquei abraçada no Dani, quando vinha uma contração eu ficava de cócoras e ele me puxava pelos braços, ficamos nisso por um tempo,foi precioso receber o carinho de todos! Voltei para o quarto, as contrações estavam fortes, fiquei me movimentando na bola, recebi massagem na lombar e aí percebi que o trabalho de parto só evoluiria depois que o Luan dormisse, pois eu e o Dani estávamos atentos a ele. A Ro o ninou aos berros, pois ele queria a mamãe, mas nessa hora eu já estava indo pra Partolandia.Depois que ele dormiu eu e o Dani nos concentramos mais.



Ficamos um tempo na piscina, depois saímos, sentei no banquinho de parto, a Ro ficou fazendo uma massagem deliciosa na minha lombar e quando vinha uma contração eu me agachava e segurava no Dani, até que começaram a sair uns coágulos, verifiquei a dilatação, senti a bolsa, a cabecinha e o colo do útero muito dilatado, que alegria! Voltei pra piscina, colocamos o banquinho lá dentro, Dani entrou ficou na minha frente e a Rosana atrás de mim, nas contrações ela me segurava por baixo dos meus braços, eu abria a bem boca fazendo um Ahhh e visualizava minha vagina abrindo também! Daí começou o expulsivo, foi ótimo ter sempre alguém a minha frente e atrás de mim, me senti apoiada e protegida, o Dani e a Rosana trabalharam intensamente comigo, enquanto a Lívia (que também estava grávida) fotografava, me dava água, comida e dizia que eu estava indo bem, risos...



Sai do banquinho, fiquei alternando entre a posição de cócoras e de quatro apoiada na piscina, nas contrações eu segurava forte nos braços da Rosana e o Dani apertava meu quadril, para ajudar a abrir a bacia.



Parece que ficamos nisso por muito tempo, entre uma contração e outra eu relaxava, amolecia nos braços do Dani, ele me fazia massagem, me dava carinho e quando vinha outra contração eu ficava firme novamente, algumas contrações vieram antes que eu me posicionasse e nessas eu não conseguia nem me mexer. Á essa altura as contrações estavam muito fortes, comecei a emitir um som de Ahhh bem alto que ajudava a me concentrar e dividir a força que fazia lá embaixo. Minhas pernas estavam tremendo como no parto do Luan, o bom é que dessa vez a água me sustentou e me deixou mais confortável, eu estava exausta, por um instante pensei que adoraria parar todo este processo para descansar, mas em meio a todo aquele cansaço eu ainda tinha muita força para descobrir!
Quando a Luiza começou a passar pela minha bacia eu urrava, era tudo muito intenso, não tinha como aquela dor e aquela força incontrolável em meu útero aumentarem, era o meu máximo, sabia que lógo ela estaria aqui do lado de fora, me toquei depois de uma contração e senti-a muito perto, falei pro Dani segurar meu períneo, em seguida veio uma contração animal! Senti a bolsa passar e ploc! Estourar! Sem pausa veio outra contração e a Luiza saiu todinha de uma vez! Dani falou: ela tá aqui! Eu a peguei, não conseguia me mexer direito, estava sem forças nas pernas, o Dani me ajudou e Nossa! Que sensação de Glória!


Parece que daí tudo parou! Ás 23hs10min peguei a nossa filha tão pequenininha, toda encebadinha, linda e perfeita, ela deu o chorinho mais emocionante, abriu os olhinhos, deu uma engasgadinha eu a aspirei com a boca e ficamos quietinhos curtindo esse êxtase, estávamos tão felizes e aliviados, ela estava ótima! Lívia não é pediatra, mas deu apgar 10, risos....



Depois de uns minutos o Dani cortou o cordão umbilical, a Rosana pegou a neném e a vestiu, eu fui para cama, a Luiza mamou, ficamos todos babando envolvidos por um sentimento tão especial, algo que não dá para explicar, mas que é muito gostoso de sentir!



Daí comecei a comer, pois eu estava mole, a Rosana me deu uma canjinha na boca enquanto eu amamentava, depois comi pão, biscoitos, tomei café com leite, água de côco, risos... Umas duas horas depois o Luan acordou e veio curtir a irmãzinha conosco.



Enquanto isso a placenta ainda estava dentro de mim. Tentamos massagens, mas eu estava muito dolorida, quis fazer xixi fui ao banheiro e não consegui, voltei pra cama, a Lívia me ajudou a fazer um movimento com a perna, fiz força, um monte de xixi e nada da placenta sair, meu útero se contraía e doía muito!



Depois de 3h que a Luiza havia nascido, eu tinha me alimentado e me sentia mais forte, resolvi sentar no banquinho de parto para ver se essa posição ajudava a placenta sair, sentei e em seguida a placenta caiu! Ploc! Acabou! Tomei um banho e fui dormir com meus dois filhotes!
Acordamos duas horas depois e eu me sentia ótima, somente meu ventre e vagina estavam doloridos, a água faz uma grande diferença no parto e no pós, lembro-me de ter ficado toda dolorida depois do parto do Luan lá no Caism. Mais tarde a neonatologista veio nos visitar, pesar, medir e examinar nossa Luiza. No mesmo dia enquanto eu descansava e admirava nossa florzinha comecei a escrever este relato.

Agradeço a Deus por essa vivência iluminada, por ter colocado essas pessoas maravilhosas no meu caminho e ter transformado a minha vida! Aos meus filhos e meu marido ofereço todo amor que tenho dentro de mim!

Luiza este relato foi escrito especialmente para você minha pequena, que um dia será uma grande mulher e atravessará o parto com a mesma força em que nasceu!


Carinhosamente,

Malena Mãe.


Livros e Sites interessantes:

• A Doula no Parto- Fadynha
• Quando o Corpo Consente- Marie Bertherat, Thérese Bertherat e Paula Brung


www.bitthasweknowit.com
http://daraluz.com.br
www.maternidadeativa.com.br
www.partodoprincipio.com.br
www.momae.org

´´ Conhecer o próprio corpo, saber respirar e relaxar é imprescindível para o trabalho de parto fluir livremente.´´